“Bembelelém Viva Belém! Nortista gostosa eu te quero bem”, versou Manuel Bandeira em
publicação de 1930 sobre Belém do Pará, a cidade das mangueiras que completa 402 anos nesta
sexta-feira (12). Quatro séculos depois, a cidade não é a mais aquela. Na opinião de
parlamentares e lideranças políticas, Belém vive atualmente um momento de abandono
governamental.
Por Railídia Carvalho
Jorge Panzera, publicou nas redes sociais imagens da Belém da memória de Manuel Bandeira. “Uma
Por Railídia Carvalho
Jorge Panzera, publicou nas redes sociais imagens da Belém da memória de Manuel Bandeira. “Uma
cidade que tem muito a comemorar, principalmente pela resistência e força de nosso povo, que
construiu e constrói essa bela cidade. Mas nossa cidade não pode perder sua memória e sua história,
aqui vão três exemplos de uma bela Belém que se foi: o Grande Hotel, a Estação Ferroviária e a
Fábrica da Palmeira”.
Panzera afirma que a preservação da memória da cidade e do povo precisa estar com o olhar voltado
Panzera afirma que a preservação da memória da cidade e do povo precisa estar com o olhar voltado
para o futuro: “Façamos isso olhando e pensando nosso futuro, em um momento de extremo
abandono, desleixo e desamor pela nossa cidade por parte de seus gestores. Belém merece mais,
merece sua história e memória resgatadas, preservadas, mas também merece seu futuro construído,
com a força e a fé de nosso povo”, ressaltou Panzera.
O deputado estadual Lélio Costa citou em post na rede social o espírito da revolta da cabanagem,
O deputado estadual Lélio Costa citou em post na rede social o espírito da revolta da cabanagem,
ocorrida no período de 1835 a 1840 no Pará e considerada uma das maiores revoltas brasileiras
contra o domínio português. Para ele, esse espírito está presente no povo de Belém. “Esta cidade de
luzes, cores e sabores, que tem em sua história um povo guerreiro, um povo cabano". Atualmente o
PSDB está na gestão no governo do Estado do Pará e na prefeitura. O tucano Zenaldo Coutinho
(PSDB) foi reeleito em 2016 e o governador Simão Jatene foi reeleito em 2014.
Na opinião do deputado federal Edmilson Rodrigues (PSol-PA) a capital paraense é vítima da
omissão do poder público. O parlamentar paraense publicou nas redes o poema Confidência do
Belenense, inspirado na poesia de Carlos Drummond Confidências de um itabirano. “Sou professor e
arquiteto com os pés no barro. Belém é o meu lugar, é o espaço das minhas solidariedades”, diz
trecho. Ao pé do poema, Edmilson acrescentou: “escrevi esta Confidência do Belenense em tom
alegre e otimista, apesar das circunstâncias atuais de estado de exceção no país e de grande abandono
governamental da nossa quatrocentona cidade”.
A Belém do carimbó, do tacacá, do povo acolhedor e alegre também figurou em 2017 em estatísticas
A Belém do carimbó, do tacacá, do povo acolhedor e alegre também figurou em 2017 em estatísticas
que confirmaram o descaso com a população. Pesquisa feita entre 100 municípios brasileiros, a partir
da avaliação da aplicação de políticas públicas como educação, saúde, meio ambiente, entre outros,
da avaliação da aplicação de políticas públicas como educação, saúde, meio ambiente, entre outros,
mostra Belém na 86ª posição no ranking da Connected Smart Cities 2017, da Urban Systems.
Também foi considerada por Levantamento da ONG Conselho Cidadão para Segurança Pública e
Justiça Penal a 11ª cidade mais violenta do mundo em 2016 e a segunda mais violenta do Brasil.
"Reafirmamos nosso voto de esperança, que dias melhores venham a Belém, que a competência para
"Reafirmamos nosso voto de esperança, que dias melhores venham a Belém, que a competência para
cuidar desta cidade chegue, e que quem ama Belém possa ser quem cuide dela”, escreveu o deputado
Lélio. Neste espírito, parodio Bandeira: "Bembelelém Viva Belém! Nortista Gostosa Hás de ficar
bem".
Parabéns, Belém do Pará!
“Confidência de um Belenense - Poesia em homenagem aos 402 anos de Belém do Pará”
Por Edmilson Rodrigues
Sempre vivi em Belém.
Nasci, cresci e envelheço em Belém.
Por isso sou alegre, orgulhoso: de barro.
Ruas de barro, leitos dos rios, também, de barro.
Minha alma transborda argila.
E essa imbricação do que na vida é argamassa comunica.
A disposição para amar, que me move,
vem desse cordão umbilical que à Belém me prende,
de suas noites estreladas, sua gente e seus horizontes.
Minha alegria é um hábito, que às vezes se interrompe:
herdo-a da doçura belenense.
Em Belém guardo as prendas que ora vos apresento:
As pedras do barro, futuro argiloso do Brasil.
O anel de tucumã e os colares de sementes ou de missangas ganhados de irmãos de sonhos
acompanham meu corpo, moram em minha casa.
Nunca tive riqueza.
Sou professor e arquiteto com os pés no barro.
Belém é o meu lugar, é o espaço das minhas solidariedades.
E como sou feliz por amá-la!
Parabéns, Belém do Pará!
“Confidência de um Belenense - Poesia em homenagem aos 402 anos de Belém do Pará”
Por Edmilson Rodrigues
Sempre vivi em Belém.
Nasci, cresci e envelheço em Belém.
Por isso sou alegre, orgulhoso: de barro.
Ruas de barro, leitos dos rios, também, de barro.
Minha alma transborda argila.
E essa imbricação do que na vida é argamassa comunica.
A disposição para amar, que me move,
vem desse cordão umbilical que à Belém me prende,
de suas noites estreladas, sua gente e seus horizontes.
Minha alegria é um hábito, que às vezes se interrompe:
herdo-a da doçura belenense.
Em Belém guardo as prendas que ora vos apresento:
As pedras do barro, futuro argiloso do Brasil.
O anel de tucumã e os colares de sementes ou de missangas ganhados de irmãos de sonhos
acompanham meu corpo, moram em minha casa.
Nunca tive riqueza.
Sou professor e arquiteto com os pés no barro.
Belém é o meu lugar, é o espaço das minhas solidariedades.
E como sou feliz por amá-la!
Nota: Em 1940, em clima de segunda guerra mundial, Carlos Drummond lançou seu livro
Sentimento do Mundo, que foi escrito quando o Brasil vivenciava a ditadura varguista do “Estado
Novo” e a Europa experimentava a ascensão do fascismo. Nessas circunstâncias a belíssima obra
trouxe, também, um certo matiz pessimista e de tristeza. Inspirado no poema Confidência do
Itabirano escrevi esta Confidência do Belenense em tom alegre e otimista, apesar das circunstâncias
atuais de estado de exceção no país e de grande abandono governamental da nossa quatrocentona
cidade.
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