sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Belém do Pará completa 402 anos em meio ao descaso governamental


“Bembelelém Viva Belém! Nortista gostosa eu te quero bem”, versou Manuel Bandeira em 
publicação de 1930 sobre Belém do Pará, a cidade das mangueiras que completa 402 anos nesta 
sexta-feira (12). Quatro séculos depois, a cidade não é a mais aquela. Na opinião de 
parlamentares e lideranças políticas, Belém vive atualmente um momento de abandono 
governamental.

Por Railídia Carvalho

Jorge Panzera, publicou nas redes sociais imagens da Belém da memória de Manuel Bandeira. “Uma 
cidade que tem muito a comemorar, principalmente pela resistência e força de nosso povo, que 
construiu e constrói essa bela cidade. Mas nossa cidade não pode perder sua memória e sua história, 
aqui vão três exemplos de uma bela Belém que se foi: o Grande Hotel, a Estação Ferroviária e a 
Fábrica da Palmeira”.
Panzera afirma que a preservação da memória da cidade e do povo precisa estar com o olhar voltado 
para o futuro: “Façamos isso olhando e pensando nosso futuro, em um momento de extremo 
abandono, desleixo e desamor pela nossa cidade por parte de seus gestores. Belém merece mais, 
merece sua história e memória resgatadas, preservadas, mas também merece seu futuro construído, 
com a força e a fé de nosso povo”, ressaltou Panzera.
O deputado estadual Lélio Costa citou em post na rede social o espírito da revolta da cabanagem, 
ocorrida no período de 1835 a 1840 no Pará e considerada uma das maiores revoltas brasileiras 
contra o domínio português. Para ele, esse espírito está presente no povo de Belém. “Esta cidade de 
luzes, cores e sabores, que tem em sua história um povo guerreiro, um povo cabano". Atualmente o 
PSDB está na gestão no governo do Estado do Pará e na prefeitura. O tucano Zenaldo Coutinho 
(PSDB) foi reeleito em 2016 e o governador Simão Jatene foi reeleito em 2014. 
Na opinião do deputado federal Edmilson Rodrigues (PSol-PA) a capital paraense é vítima da 
omissão do poder público. O parlamentar paraense publicou nas redes o poema Confidência do 
Belenense, inspirado na poesia de Carlos Drummond Confidências de um itabirano. “Sou professor e 
arquiteto com os pés no barro. Belém é o meu lugar, é o espaço das minhas solidariedades”, diz 
trecho. Ao pé do poema, Edmilson acrescentou: “escrevi esta Confidência do Belenense em tom 
alegre e otimista, apesar das circunstâncias atuais de estado de exceção no país e de grande abandono 
governamental da nossa quatrocentona cidade”.
A Belém do carimbó, do tacacá, do povo acolhedor e alegre também figurou em 2017 em estatísticas 
que confirmaram o descaso com a população. Pesquisa feita entre 100 municípios brasileiros, a partir 
da avaliação da aplicação de políticas públicas como educação, saúde, meio ambiente, entre outros, 
mostra Belém na 86ª posição no ranking da Connected Smart Cities 2017, da Urban Systems. 
Também foi considerada por Levantamento da ONG Conselho Cidadão para Segurança Pública e 
Justiça Penal a 11ª cidade mais violenta do mundo em 2016 e a segunda mais violenta do Brasil.
"Reafirmamos nosso voto de esperança, que dias melhores venham a Belém, que a competência para 
cuidar desta cidade chegue, e que quem ama Belém possa ser quem cuide dela”, escreveu o deputado 
Lélio. Neste espírito, parodio Bandeira: "Bembelelém Viva Belém! Nortista Gostosa Hás de ficar 
bem".
Parabéns, Belém do Pará!

“Confidência de um Belenense - Poesia em homenagem aos 402 anos de Belém do Pará”
Por Edmilson Rodrigues 

Sempre vivi em Belém.
Nasci, cresci e envelheço em Belém.
Por isso sou alegre, orgulhoso: de barro.
Ruas de barro, leitos dos rios, também, de barro.
Minha alma transborda argila.
E essa imbricação do que na vida é argamassa comunica.
A disposição para amar, que me move,
vem desse cordão umbilical que à Belém me prende,
de suas noites estreladas, sua gente e seus horizontes.
Minha alegria é um hábito, que às vezes se interrompe:
herdo-a da doçura belenense.
Em Belém guardo as prendas que ora vos apresento:
As pedras do barro, futuro argiloso do Brasil.
O anel de tucumã e os colares de sementes ou de missangas ganhados de irmãos de sonhos
acompanham meu corpo, moram em minha casa.
Nunca tive riqueza.
Sou professor e arquiteto com os pés no barro.
Belém é o meu lugar, é o espaço das minhas solidariedades.
E como sou feliz por amá-la!

Nota: Em 1940, em clima de segunda guerra mundial, Carlos Drummond lançou seu livro 
Sentimento do Mundo, que foi escrito quando o Brasil vivenciava a ditadura varguista do “Estado 
Novo” e a Europa experimentava a ascensão do fascismo. Nessas circunstâncias a belíssima obra 
trouxe, também, um certo matiz pessimista e de tristeza. Inspirado no poema Confidência do 
Itabirano escrevi esta Confidência do Belenense em tom alegre e otimista, apesar das circunstâncias 
atuais de estado de exceção no país e de grande abandono governamental da nossa quatrocentona 
cidade.

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